5 livro contemporâneos necessários

A literatura passou por muitas mudanças para chegar até os romances contemporâneos que lemos nos dias de hoje. Obras em que o pacto entre o leitor e o livro fica confuso, não sabemos mais se tudo ali narrado é pura ficção. Esse aspecto é nomeado por alguns pesquisadores, como Júlian Fuks, como uma era de pós-ficção, uma era em que muitos dos acontecimentos narrados em diversas obras foram experiências dos autores modificadas para se tornarem ficção.
Claro que esses aspectos não estão em todos os livros que estão aqui listados, na verdade em apenas um, ou dois, se pensarmos um deles de certo ângulo. Mas pensei que isso seria algo interessante para compartilhar com vocês, leitores, caso um dia se interessem com essa nova forma de narrar. Com isso em mente, pode-se pensar em como a literatura contemporânea é importante e necessária, para vermos vivências reais que esses autores passaram, ou por aquelas narrativas que mostram um lado esquecido da história que o nosso país e o mundo passou.
Com essa introdução, vamos logo para esses cinco livros contemporâneos:
A gorda - Isabela Figueiredo

Sinceramente, já cheguei a escrever uma resenha completa sobre esse livro, mas nunca publiquei por ter uma relação um tanto complicada com essa obra.
Bem, iniciando já com o único livro estrangeiro dessa lista, temos A gorda, lançado em 2016 pela autora portuguesa nascida em Maputo, capital de Moçambique, quando ainda era colônia de Portugal, Isabela Figueiredo. Conta a história de Maria Luísa - protagonista e narradora -, uma mulher gorda que, assim como a autora, também nasceu em Moçambique quando ainda era uma colônia e é enviada pelos pais para Portugal quando se inicia a Guerra da Independência de Moçambique (1964-1974).
Esse é o livro da lista que melhor cabe nessa nova era da literatura, da pós ficção. Já que a protagonista tem muitos traços de sua história parecidos com a da autora, as duas tendo nascido no mesmo local, tendo feito a cirurgia de gastrectomia, entre outras semelhanças difíceis de apontar, sendo uma simples leitora.
Tenho uma relação complicada por ele, por ser um livro que tive que usar para um artigo na faculdade e por, sinceramente, ser um livro com um final do qual não gostei muito. Não por ser um final apenas triste, mas por eu ter achado um final que não casava muito bem com a personagem.
Críticas à parte, é um livro muito necessário por se tratar de uma mulher gorda que tem muitos problemas por conta da gordofobia sofrida dentro e fora de casa, uma mulher que passou por muitas questões por conta da misoginia e gordofobia. Além de trazer uma parte da história de Portugal que não conhecemos muito bem, tendo a narradora trazendo um teor decolonial para o seu texto. Indico que esse livro seja lido cuidadosamente, por ter cenas de estupros explicitamente descritas.
2. O corpo interminável - Claudia Lage

Esse é um dos livros mais difíceis que já li. O corpo interminável, lançado em 2019 pela autora carioca Claudia Lage, conta a história de um homem, Daniel, que passa a investigar o que teria acontecido com a mãe, que desapareceu durante a Ditadura Militar aqui do Brasil.
Sendo assim, temos uma história extremamente chocante que relembra um momento da história brasileira que, pelo que vejo, muitos fazem questão de esquecer. Trazendo as muitas histórias de mulheres que sofreram muito nas mãos dos militares e de um filho que nunca teve a chance de conhecer a mãe por conta de um regime cruel. O silêncio ao redor de tanta crueldade foi o que incentivou a autora a trazer de volta à luz essas verdades esquecidas.
Penso que essa obra tem um tanto de pós ficção nela, por ser fruto de experiências da autora com uma professora que sofreu torturas durante a Ditadura Militar e por ter vivido esse silêncio em um período tão recente após o fim da Ditadura.
Penso que esse é um livro necessário para todos os brasileiros, para relembramos um momento tão cruel e recente em nossa história. Deixo aqui o aviso de que há muitos gatilhos nesses livro, como tortura explícita.

O som do rugido da onça, lançado em 2020 pela autora pernambucana Micheliny Verunschk, é um livro que atinge o leitor como um soco no estômago. Conta um acontecimento que é muitas vezes não comentado ou, até mesmo, escondido, que é o fato de duas crianças indígenas brasileiras terem sido expostas por cientistas em Munique, Alemanha, por volta de 1821.
Na realidade, foram mais de duas crianças indígenas sequestradas para que fossem expostas em Munique, no entanto, apenas duas sobreviveram à viagem de navio em condições desumanas. Um menino e uma menina que tiveram seus nomes trocados para serem encaixados em um estruturalismo europeu, usados como brinquedos pelas crianças da família real da época.
Iñe-e (renomeada para Isabela) e o menino Juri (renomeado para Johann) morreram longe de casa. O menino faleceu primeiro, tendo sua cabeça separada do corpo e preservada em um pote de vidro, destruído em 1944 pelos bombardeios da guerra.
Esse livro mostra a crueldade em sua forma mais crua. Como "homens civilizados" tiraram crianças de sua terra, pois se diziam cientistas. Com uma escrita muito poética mostra os horrores vistos pelas crianças, intercalando com um pouco da atualidade a partir de uma mulher que vai até o memorial feito às crianças em Munique.
É um livro que deve ser lido para que a história dessas crianças de povos indígenas brasileiros, Iñe-e e o menino Juri, nunca seja esquecida.

Pequena coreografia do adeus, publicado em 2021 pela autora paulista Aline Bei, conta a história de Júlia, desde a sua infância até a vida adulta. O leitor é mergulhado nessa narrativa em versos, com os traumas e transformações pelas quais a protagonista passa.
No entanto, não são apenas os traumas pelos quais ela passa ao longo de sua vida, crescendo com uma mãe que utiliza da violência física e psicológica para criá-la e um pai que, ao se divorciar, a deixou nessa situação de maus tratos. Também temos a jornada de Júlia para uma vida adulta que não fosse traçada apenas pelos seus traumas, usando a escrita como uma forma de colocar tudo o pensa, com as pessoas que conhece em sua vida adulta que a ajudam a traçar esses caminhos.
O leitor termina a obra com o sentimento de que esse é o início da história de Júlia, que é apenas o prólogo para a sua vida como a artista maravilhosa que ela será no futuro.

Torto arado, lançado em 2018 pelo autor baiano Itamar Vieira Junior, foi um grande sucesso desde o seu lançamento. Tendo sido lido e aclamado por muitos.
Conta a história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, e suas jornadas de vida, tendo nascido e vivido em uma fazenda em que muitas outras famílias trabalham em troca de moradia, e o processo dessa comunidade em se descobrir como quilombo e lutar contra aqueles que os exploravam. É um livro simplesmente maravilhoso que mostra uma parte do Brasil que muitos não veem ou simplesmente fecham os olhos para. Uma parte do Brasil com pessoas que não se importam que a escravidão foi abolida a apenas 134 anos, lucrando encima do trabalho análogo a escravidão.
Com uma narrativa envolvente e personagens apaixonantes, acompanhamos a jornada dessas duas irmãs da infância até a vida adulta. É simplesmente incrível, indico esse livro para todos que queiram entrar nessa história e conhecer um pouco mais de como é o nosso país.
Bem, esses são os livros que, ao lê-los, percebi que são muito necessários a serem lidos e discutidos nos dias de hoje. Livros contemporâneos que enxergam o seu valor na sociedade e aproveita isso para mostrar histórias esquecidas, atualidades esquecidas e vivências que parecem ser ignoradas.
Espero que tenham gostado dessa lista de cinco livros. Caso você, leitor, tenha algo mais a acrescentar, não tenha concordado com algo que escrevi ou tenha alguma correção, pode escrever na caixa de comentários ou entrar em contato pelo e-mail! Não se esqueça de dar uma olhada no Instagram e no Tiktok @cafe_sucodemaracuja onde também pode deixar o seu comentário. Até a próxima resenha. ;)