A Casa no Mar Cerúleo - Resenha

A casa no mar cerúleo, ou The house in the cerulean sea, é um incrível livro lançado em 2020 pelo autor estadunidense TJ Klune (ele possui um site oficial de seus livros, se quiserem dar uma olhada). No entanto, foi traduzido para o português apenas agora no ano de 2022 e lançado em uma maravilhosa edição da editora Morro Branco.
Sou um tanto suspeita para falar deste livro, pois esse é um dos meus livros favoritos. O li pela primeira vez em 2021 ainda em inglês em meu kindle, e, agora, o reli em português e foi uma experiência maravilhosa ler o meu livro preferido em duas línguas diferentes. Esse é um livro que fala de preconceitos e a desconstrução deles.
A casa no mar cerúleo, apresenta ao leitor um mundo em que os seres humanos convivem em sociedade com os seres mágicos, no entanto, registrando esses seres e os tratando com extremo preconceito. Sendo assim, acompanhamos Linus Baker, um assistente social que trabalha no Departamento da Juventude Mágica (DEDJUM), fazendo visitas frequentes aos orfanatos que cuidam das crianças mágicas. Mas a história realmente começa quando o nosso protagonista é designado por seus superiores a passar um mês no Orfanato Marsyas, localizado em uma ilha próxima apenas de uma pequena vila, do qual nem ele, nem a maioria das pessoas, jamais ouviram falar.
Nesse Orfanato, Linus conhece as crianças que vivem no Marsyas: Thália (uma gnoma de barba muito macia), Phee (uma desconfiada sprite da floresta), Theodore (uma curiosa serpe), Chauncey (uma criança adorável de natureza desconhecida), Sal (um adolescente tímido que se transforma em um lulu da pomerânia ao se assustar) e Lucy (o anticristo mais fofo que existe). Além do misterioso diretor do orfanato, Arthur Parnassus, e a sprite da ilha, Zoe Chappelwhite, que ajuda a cuidar das crianças.
Em uma história envolvente e personagens incríveis, acompanhamos a jornada de Linus Baker em conhecer cada pessoa presente no orfanato, observar se as crianças estão sendo bem educadas e bem cuidadas, e o preconceito que o assistente social possui sendo, aos poucos, desconstruído. Além de ele perceber como o sistema de governo em que se encontram faz com que o ódio e violência contra seres mágicos aumente a cada dia. É um romance que se utiliza de artifícios fantásticos para criticar a forma como os preconceitos foram formados em nossa sociedade. Como, apesar de não termos seres mágicos no mundo real, temos pessoas que são tão marginalizadas quanto eles são no livro, pela sua classe social, cor de pele, etnia, religião, sexualidade, gênero, deficiência, entre muitos outros fatores.
- Às vezes - disse o sr. Parnassus -, nossos preconceitos influenciam nossos pensamentos quando menos esperamos. Se formos capazes de reconhecer isso e aprender com isso, podemos nos tornar pessoas melhores. (KLUNE, p.97, 2020)
Cada personagem presente neste livro é maravilhoso. As crianças são simplesmente adoráveis, aprender sobre cada uma delas, saber da história de cada uma delas, apenas te faz as amar e querer conversar com cada uma delas. Não apenas as crianças, como também os adultos que acompanhamos ao longo da narrativa, descobrindo um pouco sobre cada um. Como cada um sofreu por conta dos preconceitos que as pessoas que os rodeiam cultivam como tentaram mudar isso de uma forma ou de outra.
- Não é só este vilarejo, sr. Baker. Não é porque não sente o preconceito na pele todo dia que o restante de nós não sente. (KLUNE, p.128, 2020)
Apesar de ser um livro com uma temática um tanto pesada, já que se trata de preconceitos e alguns relatos de violência contra crianças motivados por este, é o meu livro favorito. Isso porque o autor trata desse tema de maneira leve. Estamos acompanhando Linus Baker em um processo de desconstruir seus preconceitos por influência de pessoas incríveis. Como o fato de essas pessoas maravilhosas sofrerem preconceitos o fez tomar atitudes para tentar melhorar a situação delas, mantendo o orfanato - onde têm a incrível tutela do sr. Parnassus - aberto e tentando mudar algumas coisas internamente no órgão do governo em que trabalha. É um livro de esperança. Uma história que mostra que com cada ação, por menor que seja, podemos nos juntar e melhorar a vida de muitos que sofrem preconceitos.
A menininha. Ela não ficou com medo de mim. Foi legal. Não se importou com a minha aparência. O que significa que é capaz de pensar por si. Talvez a mulher diga a ela que sou malvada. Talvez ela acredite. Ou talvez não. Arthur me disse que, parqa mudar a mentalidade de muitos, é preciso começar com a mentalidade de poucos. Ela é só uma pessoa. Mas a mulher também é só uma. (KLUNE, p.252, 2020)
Pode ser que não se aplique tanto na sociedade em que vivemos, mas ainda é bom ler algo que traga esperança em um mundo tão caótico.
Além de uma história incrível, também tem uma incrível representatividade. Com representatividade de cor da pele, de corpo e de sexualidade (com ótimos personagens da comunidade LGBTQIAP+ que formam casais incríveis). Mas quero lembrar que é um livro de narrativa lenta, então, não indico para aqueles que preferem livros que se desenvolvem rapidamente.
Com uma escrita linda, narrativa bem construída e personagens apaixonantes, A casa no mar cerúleo é um livro que aquece o coração de qualquer um, além de nos fazer questionar sobre o sistema em que estamos inseridos e como, mesmo com atos pequenos, podemos ajudar na mudança e melhora de vida de muitas pessoas, em um mundo com mais direitos e, talvez, menos preconceito, se eu não estiver sendo muito utópica.
"O mundo gosta de ver as coisas preto no branco, moral e imoral. Mas há áreas cinzentas. (...) E tem a questão da percepção da imoralidade." (KLUNE, p.167, 2020)
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