Enquanto Eu Não Te Encontro - Resenha

29/08/2022

Enquanto eu não te encontro, lançado em 2021, é o romance de estreia do autor brasileiro e nordestino Pedro Rhuas. Um livro que já tinha em minha estante havia um tempo, mas finalmente encontrei um tempinho para lê-lo e, com certeza, não me arrependo dessa decisão. Ler um livro brasileiro, especialmente um livro de autor nordestino, é estar ainda mais presente e imersa na história que a obra está ali para contar.

Pedro Rhuas mergulha o leitor na vida de Lucas, um jovem do interior do Rio Grande do Norte que se muda para a capital, Natal, junto ao seu melhor amigo, Eric, para estudar na UFRN. No entanto, há um problema: Lucas nunca se apaixonou e o seu melhor amigo está ocupado demais com o seu namorado para sair com ele, como antes faziam. Mas isso muda quando eles vão juntos para a inauguração de uma boate e, o nosso protagonista e narrador, se apaixona pela primeira vez por um jovem alto, louro e francês chamado Pierre.

É um livro para esquentar um pouco o coração em meio a tanta coisa louca que está acontecendo em nosso país e no mundo. Com um romance fofinho e lindo, personagens engraçados e cativantes, além de trechos que te pegam de surpresa por uma profundidade que você não esperava para aquele momento da narrativa.

"Eu não entendia o porquê de não poder brincar com as roupas de mainha se todos me encorajavam a usar as do meu pai. Também não compreendia o motivo pelo qual deveria fazer aquilo em segredo.

Quando a gente é criança, porém, logo se dá conta de um acordo velado sobre o que se adequa ou não para meninos e meninas. Depois de um tempo, percebemos que algumas regras são seguidas sem ninguém questionar, e não me refiro apenas à idiotice do azul versus rosa.

Ser a ovelha arco-íris naquele rebanho cinzento foi complicado." (RHUAS, 2021, p.19)

As referências à cultura pop, com certeza, foram os momentos em que mais me diverti ao longo de minha leitura. Desde a rivalidade que as fanbases da Katy Perry e Taylor Swift tinham (até 2019 com You need to calm down da Taylor), até filmes de comédia romântica. Me divertia muito cada vez que essas coisas apareciam espalhadas pela narrativa, e pela forma como o autor se utilizou disso para entendermos um pouco mais sobre a personalidade e pretensões de cada personagem. Uma ótima ferramenta para a construção de personagens presentes na história.

O fato de o tempo da narrativa ser 2015 apenas me fez triste por coisas como o Ciências sem Fronteiras, muito referenciado no livro e que, infelizmente, não existe mais. Me lembrou de algumas questões políticas que aconteciam nessa época e nem o protagonista nem o autor tem medo de deixar explícito o seu posicionamento político com relação à época e ao agora:

"Spoiler: Eric chegou intacto à Espanha. Exultante. Feliz pra cacete. Sortudo por ser a ÚLTIMA leva do Ciências sem Fronteiras, já que o programa logo foi cortado pelo golpista." (RHUAS, 2021, p.250)

Vi algumas críticas com relação ao livro, umas eu concordo e outras eu discordo. Lembro ter lido no Goodreads sobre a escrita de Pedro Rhuas, e, sinceramente, eu não vi problema nisso. Achei incrível os regionalismos presentes na escrita dele, alguns que eu nem mesmo identifiquei por ser específico do RN, não se abrangendo por todo o Nordeste (viu sulista, não somos todos iguais!). O autor consegue equilibrar muito bem a comédia, o romance e frases profundas com temas mais sérios ao longo de sua escrita. No entanto, concordo que tem alguns escorregões aqui e ali, mas nada que o escritor não possa amadurecer em outros romances que venha a escrever. Um desses deslizes é o diálogo, alguns pareciam um pouco forçados enquanto outros eram feitos de modo muito natural, eu como aspirante a escritora sei como é difícil escrever diálogos, e tenho certeza de que ele não cometerá o mesmo erro em livros futuros.

Outra questão é: poderia haver mais páginas no livro. Teve alguns momentos no romance que pareceram um tanto corridos. Eu amaria que o romance fosse um pouco mais longo, não apenas por amar o casal principal, mas por achar que certas partes do livro mereciam um desenvolvimento mais robusto. Contudo, penso que isso possa ter sido intenção de Pedro Rhuas, escrever um livro que fosse quase que um prólogo para a linda história de amor entre Lucas e Pierre.

Mas não é como se essas coisas tenham retirado o meu prazer de leitura nesse livro incrível. Eu amei cada parágrafo e cada personagem, tive o desejo de ser amiga de cada um deles. A cada página ficava curiosa com o que aconteceria e mais me apegava aos personagens. Virou um de meus livros de conforto com toda a certeza.

Com muita representatividade LGBTQIAP+, racial, de gênero e protagonizado por um homem gay afeminado, Enquanto eu não te encontro, é um livro que trata de assuntos como racismo e homofobia de forma leve e com bastante responsabilidade. Além dos toques de política brasileira espalhados pelo livro.

É um livro que recomendo para todos que gostem de um romance bobinho para ler antes de dormir ou no ônibus voltando para casa. É muito bom ler livros nacionais que carregam tanto do que realmente somos: um povo plural e alegre, mas que ainda precisa resolver muitos problemas nesse país esquisito que vivemos.

Caso você, leitor, tenha algo mais a acrescentar, não tenha concordado com algo que escrevi ou tenha alguma correção, pode escrever na caixa de comentários ou entrar em contato pelo e-mail! Não se esqueça de dar uma olhada no Instagram e no Tiktok @cafe_sucodemaracuja onde também pode deixar o seu comentário. Até a próxima resenha. ;)

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