Viúva de Ferro - Resenha

Alerta de gatilhos: guerra; violência; assassinato; misoginia.
Viúva de Ferro, ou Iron Widow, é um livro de fantasia publicado em 2021 pela autora Xiran Jay Zhao. Sendo esse, surpreendentemente, o seu primeiro romance, a autora mergulha o leitor em uma história de mecas em um futuro distópico na nação que seria a China.
Ao longo da trama, o leitor acompanha Wu Zetian - narradora e protagonista -, uma jovem que vive em uma vila pobre e que tem como um de seus maiores objetivos se vingar do piloto Yang Guang. Aquele que assassinou a sua Irmã mais Velha, antes mesmo de ela ter a chance de lutar no interior de uma Crisálida - grandes máquinas utilizadas para a guerra contra os Hundus, criaturas alienígenas que invadiram o nosso planeta - como piloto-concubina. No entanto, o romance não se resume apenas a esse breve resumo, tendo muitas reviravoltas incríveis que te fazem ficar cada vez mais curioso com a história que está sendo contada.
Em um mundo que está em constante guerra contra os Hundus e que glorifica essas batalhas com drones que as transmitem ao-vivo para toda a população com acesso a tecnologia. As mulheres são vistas como pouco mais que objetos de reprodução da espécie. Sendo necessárias para que o equilíbrio entre o qi primordial Yin (o feminino) e o qi primordial Yang (o masculino) faça possível o funcionamento das grandes crisálidas, elas acabam morrendo nas batalhas com todo o seu qi esgotado pelo piloto, pelo homem, que comanda a grande arma de guerra. Sendo assim, meninas como Zetian, são vendidas pelas famílias para que sejam pilotos-concubinas.
A forma como a autora coloca problemas que ainda temos em nossa realidade em um universo fantástico é realmente magnífica. Problemas como misoginia, machismo e racismo são colocados de forma muito forte ao longo da narrativa. Da mesma forma que em nosso mundo, meninas são levadas a acreditar que podem encontrar um príncipe encantado e que essa seria uma de suas poucas formas de ascensão na sociedade, levadas a acreditar que pode até sair para trabalhar, mas terá que cuidar do marido e dos filhos quando se casar. Em Huaxia - nação em que a história se localiza - as meninas são levadas a acreditar que podem ter sorte e se tornar uma Princesa de Ferro, uma mulher que junto ao seu par, consegue controlar uma crisálida sem tanto perigo de morte.
"(...) Isso é só uma fantasia pouco provável que dá a garotas a ilusão de que podem sobreviver!" (ZHAO, 2021, p.44)

Xiran Jay Zhao nos mostra que mesmo em um mundo como o nosso, não é necessário muito para que retornemos a tempos em que nós mulheres não tínhamos nenhum dos direitos que conquistamos com muita luta. Como mesmo sendo um futuro, Huaxia retornou a uma tradição de misoginia e machismo extremos. Essa é uma reflexão muito importante, em um mundo em que países tidos como democráticos e como ideal de liberdade, retira a legalização nacional do aborto. Em um mundo que se incomoda muito com as lutas das minorias e com as suas conquistas a direitos fundamentais aos quais foram privados por tantos séculos. Em um mundo que prefere sacrificar muitos para que poucos possam continuar em sua posição de privilégio.
Uma das mensagens que absorvi do romance enquanto o lia, é que devemos ser Viúvas De Ferro assim como Zetian. Okay, talvez não exatamente como Zetian, que não vê muito problema em matar pessoas haha. Mas sermos pessoas que lutam pelos nossos direitos de todas as formas, pessoas que não aceitam injustiças com ninguém, que lutam por um mundo de igualdade, lutar para que esse mundo construído a partir de guerras, colonialismo, escravidão e genocídios não se resuma apenas a isso e que possamos evoluir a partir da igualdade e equidade. Viúvas de ferro são aquelas pessoas que saem às ruas exigindo seus direitos aos governantes, aqueles e aquelas que não vão descansar enquanto elu ou qualquer outra pessoa estiver sofrendo.
"É como se eu estivesse dentro de um casulo apertado demais para tudo que sou. Se as coisas fossem do meu jeito, eu existiria como aquela borboleta, sem dar aos passantes uma oportunidade fácil para me limitarem com um simples rótulo." (ZHAO, 2021, p.29)
O fato de Wu Zetian ter sido inspirada em uma personagem real de mesmo nome na história chinesa, apenas me fez ficar ainda mais curiosa com o livro e para ler um pouco mais sobre a história da China. SPOILER: Além de ter um triângulo amoroso que se torna um trisal.
Acho que você, leitor, já deve ter percebido o quanto gostei deste livro. Com uma história eletrizante, uma construção de mundo espetacular, personagens amáveis, odiáveis e bem construídos e um super plot twist no final que eu não esperava nem um pouco. Indico esse livro para qualquer um que ame fantasia, futuros distópicos e de mecas presentes em tantos cantos na cultura pop.
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